domingo, 25 de outubro de 2009

COMO OS HIPPIES FIZERAM WOODSTOCK

Jornalista brasileiro que foi hippie durante as décadas de 60 e 70 nos Estados Unidos conta como o público transformou o que seria mais um festival de rock em um dos mais importantes acontecimentos da história da música mundial
DANILO CASALETTI

Irreverência O público de Woodstock foi uma atração à parte

O mundo celebra os 40 anos de Woodstock, o lendário festival de rock organizado por Michael Lang que aconteceu em uma fazenda em Bethel, ao norte de Nova York, entre os dias 15 a 16 de agosto de 1969. No palco, estrelas como Joe Cocker, Jimi Hendrix, Santana, The Who, The Grateful Dead, Joan Baez e Janis Joplin. Na plateia, quase 400 mil jovens, que, para o jornalista Joel Macedo, autor do livro Albatroz, o encontro das tribos na Califórnia dos anos 60 (Editora Danprewa), foram os grandes protagonistas do evento.

Woodstock não estava sendo cotado com um grande festival. Seria, a princípio, um evento de rock como tantos outros que aconteciam pelos Estados Unidos. “Só foi um mega festival porque o povo derrubou a cerca”, diz Macedo. E o jornalista conhecia bem o público que invadiu a fazenda e fez de Woodstock um festival antológico: fazia parte da mesma tribo. Joel foi para os Estados Unidos no final de 1968, aos 20 anos, como correspondente do jornal carioca Última Hora, chefiado pelo jornalista Samuel Wainer, e logo que chegou, tomou parte do movimento. “Era tudo muito forte, efervescente”, diz.

A paz universal, o fim da Guerra do Vietnã, o amor livre, o fim do racismo e, claro, muitas drogas eram as principais bandeiras defendidas pelo público de Woodstock. Quem esteve por lá costuma dizer que quem se lembra de muitos detalhes é porque provavelmente não esteve ou pelo menos não aproveitou como deveria. O registro histórico, porém, foi garantido pelo cineasta Michael Wadleigh, que captou imagens do festival e as lançou no filme Woodstock, 3 dias de paz, amor e música, de 1970.

Os três dias de paz e rock acabaram ficando marcados como um importante episódio da luta americana pelos direitos humanos, que começou ainda na década de 50 e teve seu apogeu em 1963, na Marcha sobre Washington de Martin Luther King. “Em 1969, o movimento ressurgiu com outra bandeira, a pacifista. Era uma outra agenda, mas o mesmo movimento”, diz.

Para Macedo, porém, o movimento hippie teve seu anticlímax poucos meses depois, em dezembro de 1969, durante o festival de Altamont, na Califórnia. Programado para ser uma resposta da costa oeste americana a Woodstock, o evento, organizado pelos Rolling Stones, reuniu bandas californianas, mas ficou marcado pela violência e pela morte de quatro pessoas que foram esfaqueadas por motoqueiros do grupo Hells Angels, que foram contratados para fazer a seguranças do festival. “As drogas já estavam sob controle do crime organizado”, afirma Macedo. “O movimento hippie mudou de mão, fugiu de controle. Em Altamont, o sonho acabou”.

De volta ao Brasil, no verão de 1970, Macedo participou da fundação do movimento hippie brasileiro que, no mesmo ano, recebeu uma visita ilustre: a cantora Janis Joplin. “Ela veio passar o carnaval no Rio de Janeiro, mas já estava mal, não largava a garrafa de bebida”. O jornalista se lembra de Janis sentada na grama da praça General Osório, uma espécie de reduto hippie da cidade, cantando para homenagear o movimento.

Durante a ditadura militar, o movimento hippie brasileiro foi mais uma força, ao lado da luta armada, contra o regime. Mas, assim como fora do país, as mudanças acabaram transformando a cultura em uma espécie de caricatura. "Apesar de não praticamente não existir mais, o movimento hippie é visto como parte importante da história. Foi a geração da utopia por um mundo novo. Era uma geração corajosa, que decidiu assumir o papel de sujeito “, afirma Macedo.

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