segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Por JORGE ANTUNES

Jorge Antunes é maestro, compositor, professor titular da UnB, Pesquisador do CNPq e Presidente da Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica.


Democracia na Universidade

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que está em vigor, assinada por FHC há oito anos, instituiu, através de seu artigo 87, a Década da Educação. Essa década se completará no final de dezembro de 2007. A lei determinou o prazo de dez anos para a execução de ações básicas, próprias a qualquer país civilizado que se preocupe com a educação de qualidade: recenseamento de educandos, matrícula de todas as crianças a partir dos seis anos, provimento de cursos para jovens e adultos insuficientemente escolarizados, programas de capacitação para todos os professores, regime de tempo integral nas escolas, etc, etc.

A Década da Educação ainda está em curso, rumo ao fiasco, e o governo Lula, voltando-se à parte de um todo, se empenha em uma nova reforma universitária com indícios de retrocesso cheio de emendas neoliberais piores que o soneto.

A mesma LDB, em seu artigo 56, confirmou o princípio da gestão democrática nas instituições públicas de educação superior, tal como em todas as reformas do tempo da ditadura militar. O problema é que "gestão democrática" é expressão que adquire diferentes acepções, conforme a arrogância do usurpador de plantão. A reforma de FHC estabeleceu que, na tal gestão democrática, os docentes ocupam setenta por cento dos assentos no colégio eleitoral de escolha de dirigentes. Assim, nas eleições para Reitor, os outros trinta por cento ficam divididos entre os segmentos que formam a maioria da comunidade universitária: alunos e funcionários.

A lei em vigor é mais elitista e discriminatória que a dos tempos dos generais. A Reforma do Ensino, assinada por Costa e Silva e Tarso Dutra um mês antes do AI 5, era mais benévola com o corpo discente. O artigo 38 da Lei de 28 de novembro de 1968 dava à representação estudantil o direito de ocupar um quinto do poder decisório. Trocando em miúdos, enquanto no governo Costa e Silva os estudantes detinham 20% de participação nas decisões, no governo FHC passaram a ter apenas 15% de participação.

A verdadeira gestão democrática da Universidade só terá lugar a partir do momento em que os três segmentos - alunos, funcionários e professores - tiverem participação paritária nas representações e nas decisões. Isso significaria uma percentagem de 33,33% para cada segmento. Esse é o único critério que se harmoniza com a designação "universidade", que nos remete à dimensão de totalidade e de conjunto. O conceito original de Universitas é o de congregação de todos os entes que compõem o "universo". Universidade que se pretende universalidade, tem que estar paritariamente distribuída no que se refere à responsabilidade e à construção. A Universidade brasileira precisa buscar nova etapa em sua história, que recupere o ideal do coletivo. A universitas magistrorum et scholarium da tradição parisiense deve dar lugar a um novo modelo em que alunos, docentes e corpo administrativo, com poderes paritários, norteiem novos caminhos que rompam com o corporativismo continuista.

Enfim, a nova Universidade a ser reinventada tem que deixar de ser um mero conjunto de edificações ou um círculo de saberes, para se tornar uma congregação de pessoas. Para que a Universidade contribua com o fim do sistema social de apartação é preciso que ela, antes, extirpe as desigualdades de seu interior.

A reforma universitária vem aí. O golbery do Lula disse, recentemente, que "o pau vai quebrar" nas Universidades. O Ministro que vaticinou a violência ainda era um jovem estudante não politizado quando em 1962 foi deflagrada a famosa Greve do Um Terço. Essa foi a mais longa greve nacional em que os estudantes lutamos por uma Reforma Universitária que contemplasse o corpo discente com um terço de representação nos orgãos colegiados.

Se é verdade que o pau vai quebrar, também é verdade que estudantes conscientes existem a dar com pau. Ministros cara-de-pau hão de ver com quantos paus se faz uma reforma: a comunidade universitária do século XXI pode deflagrar uma nova "greve do um terço", garantir a verdadeira gestão democrática da Universidade e … matar a pau!

A comunidade universitária, de que falam todas as leis atinentes à educação, é formada de alunos, professores e funcionários, nesses incluídos os terceirizados. Quando os três segmentos tiverem igual participação na escolha de dirigentes, estarão assegurados respeitos mútuos e responsabilidades que vão dar lugar à consecução dos objetivos da educação, da pesquisa, do ensino e da extensão em toda plenitude: respeito à liberdade, apreço à tolerância, exercício da solidariedade humana, pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania, sua qualificação para o trabalho e formação de sua inquietação crítica e especulativa que vai garantir boas transformações para a sociedade futura.


(Fonte: http://www.espacoacademico.com.br/034/34cantunes.htm)

Liberdade e Democracia na Universidade

Liberdade e Democracia na Universidade



*Lúcio José Botelho


(Fonte: http://www.portalensinando.com.br/ensinando/principal/conteudo.asp?id=2688)


Inicialmente, queria situar-nos geopoliticamente, para melhor podermos refletir sobre o tema " Liberdade e Democracia na Universidade: A Visã o de Outros Paí ses" . O Brasil é um paí s com 180 milhõ es de habitantes, distribuí dos em uma á rea de 8,5 milhõ es de quilô metro quadrado, com gigantescas desigualdades. Demograficamente, por exemplo, Sã o Paulo com 800 habitantes por quilô metro quadrado, contrasta com algumas regiõ es amazô nicas que tem menos de um habitante por quilô metro quadrado.

Assim mesmo somos a 9º economia do mundo, e nosso posicionamento na Amé rica do Sul é tã o importante que somente nã o fazemos fronteiras com o Equador e com o Chile. Nosso paí s é formado por 26 estados membros de uma Repú blica Federativa e um Distrito Federal. Sendo um paí s de extensã o continental, nossas necessidades em termos de Educaç ã o sã o enormes e crescentes, cada vez mais temos demanda.

Fazem parte do que chamamos de Ensino Superior, o que seria comparado na realidade americana com Colleges e Universities, 2063 estabelecimentos, dos quais 163 sã o Universidades, das quais 55 sã o publicas e federais. Há ainda pú blicas estaduais, confessionais e outras privadas.

Poré m, nossos indicadores sã o ainda muito ruins. Embora tenha havido um grande incremento nas matrí culas no Ensino Fundamental nos ú ltimos 10 anos, somente 53% dos brasileiros que ingressam na escola, completam oito anos de estudo, sendo que menos ainda, 37%, concluem o Ensino Mé dio (11 anos), o que é condiç ã o obrigató ria para o ingresso no Curso Superior.

Há ainda quase 11% de analfabetos, com diferenç as é tnicas, negros 15,4% e brancos 7% regionais 22% no nordeste contra 6% no sul e locais 25% na zona rural contra 9% urbana.

Mas é nas Universidades que as contradiç õ es sã o ainda mais marcantes. Somente 12% dos jovens entre 18 e 24 anos estã o nos bancos universitá rios e destes aproximadamente 20% em universidades pú blicas, isto é com educaç ã o paga pelo erá rio pú blico. A maior contradiç ã o é que um grande nú mero, principalmente nos cursos de maior valor de mercado vem de estames mais elevados da populaç ã o.

As contradiç õ es se avolumam quando constatamos que apó s 90, houve crescimento exponencial de escolas privadas, com um aumento gigantesco de vagas. No entanto embora haja enorme demanda, há cerca de 50% de vagas nã o ocupadas, por absoluta falta de possibilidade de pagarem as mensalidades.

Santa Catarina é um dos 26 estados da Federaç ã o, tem pouco mais de 5 milhõ es de habitantes em uma á rea de 95,7 mil quilô metros quadrados. Situa-se no extremo sul do paí s e sendo o 22° em á rea geográ fica, é o 6° em produç ã o de riquezas.

Possui diversificada indú stria, com destaque para metal-mecâ nica, alimentí cia e pesqueira, a produç ã o marca relaç õ es é tnicas, é um dos estados de maior quantidade relativa de imigrantes, marcadamente vindos da Europa.

Sendo criativo e operante, desenvolveu na educaç ã o um sistema pró prio de escolas, que sã o chamadas de comunitá rias, fundaç õ es municipais que cobrem todas as regiõ es do estado, mas vivem a mesma crise nacional, excesso de vagas ociosas, ou seja, há menos vagas do que as necessá rias, mas há menos pessoas com possibilidade de pagar os custos.

A capital do estado é a cidade de Florianó polis, situada em uma ilha, distribui seus 300 mil habitantes por 440 quilô metro quadrado de uma á rea litorâ nea com 42 praias. A cidade recebe por ano cerca de um milhã o de turistas. É em Florianó polis que estã o as sedes das duas universidades pú blicas, uma federal e outra estadual, sendo onde estã o mais de 90% dos estudantes universitá rios que estudam com o benefí cio da gratuidade.

A Universidade Federal de Santa Catarina é uma das mais importantes do paí s, com cerca de 21.000 alunos de graduaç ã o e mais de 10.000 de pó s-graduaç ã o, figura entre as cinco mais importantes em todas as formas de avaliaç ã o. No ranking Webometrics é a terceira mais importante.

A maior caracterí stica é uma produç ã o acadê mica intimamente ligada ao processo social, seja atravé s das relaç õ es com grandes empresas, seja com a manutenç ã o de ví nculos produtivos com pescadores, cultivo de moluscos e camarõ es ou ainda com envolvimento em polí ticas sociais como a proposiç ã o de um novo marco no controle da mortalidade infantil.

É esta relaç ã o que aumenta consideravelmente o orç amento da universidade, fazendo o diferencial em termos de qualidade.

Situados no contexto geral, entendemos que duas categorias muito especiais dã o o tí tulo a nossa participaç ã o, Liberdade e Democracia. Trabalhar estes conceitos é uma grande responsabilidade, visto que mais do que expressõ es conceituais traduzem aspiraç õ es do ser humano, alé m de serem sinô nimos em determinados contextos sociais.

O sé culo XII surge com os sinais precursores do renascimento, a valorizaç ã o do homem e da natureza, uma nova ordem social com o surgimento das cidades, onde uma nova geraç ã o de homens, livres, artesã os, comerciantes, passa a exigir uma nova forma de comunicaç ã o e as universidades estã o diretamente ligadas a este processo.

Brevemente podemos dizer que a origem da universidade, neste sé culo XII, é libertá ria e de certa forma democrá tica, pois pressupõ e o compartilhamento do conhecimento, no entanto dadas à s caracterí sticas sociais, somente uma casta podia se fazer presente, a classe dominante, os nobres e o clero.

Neste momento í mpar da sociedade, o conhecimento, expresso na necessidade de domí nio dos fazeres e principalmente dos saberes humanos, instiga este novo homem, que atravé s dos intercâ mbios proporcionados pelo florescente comé rcio manté m cada vez mais contato com outros homens, provenientes de outras realidades e as trocas de saberes se intensifica a ponto de criar a necessidade de um local para melhor ocorrerem.

A universalidade do conhecimento cientí fico é a base humanista de qualquer processo universitá rio, a trajetó ria histó rica, entretanto, conduziu ao longo deste milê nio a caminhos bastante diferentes. A divisã o té cnica e social do trabalho, mormente apó s a era moderna, a divisã o dos paí ses, a competiç ã o e a competitividade, puseram em marcha modelos que tenderam a dominaç ã o e/ou ao isolamento.

Longe de querer aprofundar uma aná lise histó rica estas diferenç as marcam sobremaneira a trajetó ria das nossas instituiç õ es de ensino superior. As Universidades nos paí ses de lí ngua hispâ nica, Dominicana, Mé xico e Peru, as mais antigas, sã o fundadas pelos colonizadores, justamente onde havia sociedades mais evoluí das, enquanto que no Brasil, somente o sé culo XX presencia o nascer das primeiras universidades.

Por este prisma para entendermos o momento atual, e abordarmos o tema presente, temos necessariamente que avaliarmos em uma perspectiva temporal. Que universidade construí mos nos ú ltimos anos e em que contexto só cio polí tico e cultural.

As universidades brasileiras sã o absolutamente jovens, as mais antigas tem pouco mais de 70 anos e no entanto já despontam no cená rio mundial. Um dos aspectos a considerar é que foram as universidades, juntamente com a igreja os principais nichos de resistê ncia aos regimes totalitá rios e ditatoriais que se instalaram nos paí ses sul americanos, principalmente nas dé cadas de 60 e 70. No Brasil foram os locais precursores das eleiç õ es diretas para dirigentes, a Federal de Santa Catarina foi a primeira (1983) a promover eleiç õ es.

Poré m o que precisa ser ressaltado é que nos paí ses perifé ricos, o desenvolvimento cientí fico e tecnoló gico, e portanto a possibilidade de inovaç ã o é dependente da universidade. No Brasil, cerca de 90% das pesquisas sã o em universidades e destas 95% em universidades pú blicas.

Historicamente fomos formados em outros paí ses e na maioria das vezes dependentes de linhas de pesquisas formuladas no exterior. Poré m nesta nova era do conhecimento temos enfim uma geraç ã o de pesquisadores formados com uma outra ló gica, a ló gica da cooperaç ã o internacional, horizontal, e uma ló gica mais voltada à s reais necessidades dos nossos paí ses.

Há uma mudanç a na polí tica educativa em curso, novas formas de financiamento, o fó rum das estatais e os novos fundos, o programa de bolsas, facilitando o ingresso de alunos com baixo poder aquisitivo, a expansã o das universidades pú blicas federais, a criaç ã o da Universidade Aberta do Brasil, propiciando com EAD a formaç ã o de professores, especialmente os das redes pú blicas, sã o algumas das iniciativas.

Outras ainda em fase de estudo e adoç ã o, buscam alterar a estrutura de ingresso na escola pú blica, ampliando atravé s de polí ticas afirmativas a parcela de negros, í ndios e pobres. També m em discussã o se encontra a alteraç ã o dos currí culos, sendo as proposta mais aceitas as que de certa forma aproximam ao Processo de Bologna, implantado em toda a Europa e que representará , nos pró ximos anos um enorme apressamento na formaç ã o.

Os desafios sã o mú ltiplos, poré m a esperanç a é ainda maior, pois os diversos modelos que vem sendo implantados, começ am a gerar resultados.

Se considerarmos o potencial que temos, em questõ es estraté gicas como energia renová vel, limpa, a riqueza do solo e do subsolo, a biodiversidade e sobretudo o mais importante, gente, uma mistura de raç as sem par no mundo, vivendo sem conflitos é tnicos, religiosos ou raciais, poderemos ser uma grande naç ã o.

Temos como grande obstá culo ao crescimento e ao desenvolvimento nossa pró pria desigualdade social, a forma de concentrar riqueza, e como entendemos que há uma ú nica forma de fazer crescer a cidadania e a participaç ã o, e que esta é a educaç ã o, penso que podemos finalmente estarmos no caminho certo.



* É reitor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina)

Brasília: a capital da geopolítica !?

Brasília X Geopolítica

Helio de Araujo Evangelista

( www.feth.ggf.br )


Fonte: (http://www.feth.ggf.br/Geopol%C3%ADtica.htm)

Resumo:

O artigo aborda a geopolítica, tendo por objeto a sua relação com a geografia política a partir de textos de geógrafos brasileiros. Ao final, apresentamos nossa posição sobre o tema.

Abstract :

This article deals with the geopolitics. It has for objective to show the relationship between political geography and geopolitics by using text’s brazilian geographers. At the end, we explain our position about it.

· Apresentação

Ao retomarmos as argumentações favoráveis ou contrárias à transferência da capital brasileira para o interior do Brasil, encontradas em Vesentini ( 1996 ) e Vasconcelos ( 1978 ), chama-nos a atenção a polêmica que envolveu o geógrafo alemão, naturalizado americano, Sr. Leo Waibel, que então prestava seus serviços no Conselho Nacional de Geografia.

Desta polêmica, pelo artigo intitulado “ Determinismo Geográfico e Geopolítica ( contribuição ao problema da mudança da capital ) ”, [2] o Sr. Leo Waibel comenta o Relatório Técnico da Comissão de Estudo para a Localização da Nova Capital do Brasil, no qual é observado que o trabalho do engenheiro Cristóvão Leite de Castro, escrito sob a orientação de Leo Waibel, coloca “...a área do “Retângulo de Cruls” em 6º lugar por não ter querido se elevar até o plano geopolítico do problema, preferindo ficar no plano de puro determinismo geográfico ...” ( 1961, pp. 612-614 ).[3]

O primeiro aspecto que Leo Waibel esclarece é quanto ao determinismo, ele entende ser este um conceito introduzido por Ratzel pelo qual os elementos da geografia humana seriam determinados, principalmente, pelos fatores naturais. Waibel, enquanto discípulo de Alfred Hettner, considera que os fatores físicos não tem tamanha densidade para exlicar a dinâmica social. “A decisão cabe ao homem, ao seu estágio de desenvolvimento, ao poder da sua vontade ( que é forte ) e ao espírito. Esta é a filosofia geográfica que hoje em dia é geralmente aceita na França e na Alemanha...” ( Ibidem, p. 613 )

Sobre o trabalho desenvolvido pelo astrônomo Cruls, ele observa que os fatores físicos assumiram grande destaque na indicação da localização da futura capital, e :

“Os fatôres humanos mereceram ali muito pouca ou nenhuma consideração, e aí está, sem dúvida, o mérito da Segunda Expedição Geográfica, que aplicou os princípios da geografia humana ao problema da futura capital. Se há um determinismo geográfico em algum dos dois relatórios, êle está no da Comissão Cruls e não no nosso! nestas circunstâncias, a observação do senhor presidente de que “mesmo êsse ( o nosso ) relatório confirma e completa os dizeres essenciais do relatório da Comissão Cruls” é para mim completamente desprovida de sentido.” ( Ibidem, p.. 614 )

Quanto à acusação de que Leo Waibel não teria se elevado ao plano geopolítico do problema, este retrucou: “Mais uma vez êle errou ; o que eu não quero é rebaixar o meu padrão profissional ao nível de um geopolítico! Para os geógrafos alemães a palavra Geopolitik tem sabor amargo. A geopolítica é aquela pseudo-ciência que é largamente responsável pela catástrofe da Alemanha atual, ...” ( Ibidem, p. 614 )

E Waibel continua : “...O grande problema é : qual a diferença entre a Geopolitik de Rudolf Kjellén e a Politische Geographie de Friedrich Ratzel ? Esta pergunta nunca foi respondida satisfatóriamente.” ( Ibidem, pp. 614-615 ) [4]

Pelo exposto, há uma notória repulsa ao termo geopolítica, porém, nos dias atuais, costuma ser muito mais usado que geografia politíica. Por quê esta ambiguidade ?

É o que procuraremos tratar nas linhas que se seguem a partir de autores brasileiros que chegaram a abordar o tema de forma aprofundada.

· A geopolítica brasileira

Percebe-se na literatura nacional uma certa dicotomia entre uma escola militar, para a qual não poucos civis prestaram seus serviços, e uma escola acadêmico-civil, mais recente, que trazem modos distintos na análise da relação entre geopolítica e geografia política.

Pela primeira escola, destacamos as contribuições dos militares Mário Travassos ( 1938 ), Golbery do Couto e Silva ( 1981 ), Meira Mattos ( 1979 ) e Octávio Tosta ( 1984 ).

Nesta corrente não incluimos Nelson Werneck Sodré que embora militar não veio a configurar com os autores mencionados um coletivo coeso.

Cabe ressaltar ainda que para a formalização desta corrente, dita militar, contribuiram civis, particularmente, Everardo Backheuser, Delgado de Carvalho e Therezinha de Castro ( esta falecida recentemente ao início do ano ). A rigor, a contribuição destes decorre de uma época na qual o diálogo entre civis e militares era mais fluente.

Assim, não é exclusivamente o paramento militar que configura este coletivo, mas assim o designamos por formar uma unidade que veio a ser mais estimulada pela Escola Superior de Guerra, criada em 1949.

O segundo grupo teria uma índole influenciada pela ambiência acadêmico-universitária, do qual destacaríamos : Wanderley Messias da Costa ( 1992 ), José William Vesentini ( 1996 ), André Martin ( 1993 ), Demétrio Magnoli ( 1988 ), Manoel Correia de Andrade ( 1989 ) e Bertha Koiffman Becker ( 1988 ) . [5]

Destaca-se, pela linha dos militares, que a geopolítica é a face dinâmica da própria geografia política, isto porque a geopolítica teria a incumbência de inspirar raciocínios que enveredariam em favor da formulação de estratégias de características militares . Assim, a geografia política teria um papel eminentemente informativo, ficando à geopolítica a incumbência de traçar diretrizes estratégicas para o exercício do poder.

Já na linha do pensamento civil, verifica-se uma diferença interna. Pois há os que entendem ser a a geopolítica como algo a ser proscrito enquanto uma versão ideológica ( de cunho facista ) que pouco contribuiu para o avanço da geografia. Por esta linha destacaríamos Wanderley Messias da Costa.

Por outro lado, há os que entendem ser a geopolítica um cabedal de conhecimento não passível de ser descartado pela comunidade acadêmica; particularmente, por este caminho, perfila Bertha Koiffman Becker.

· Geopolítica e a geografia política

Para o Gen. Meira Mattos ( 1979 ) a geografia política ficou no campo das ciências geográficas como a entendiam Whittlesey, Renner, Brunhes, Vallaux e tantos outros, enquanto que a geopolítica de Kjéllen e de Ratzel adquiriu o sentido dinâmico das ciências políticas, indicadora de soluções governamentais inspiradas na geografia.

Na escola raztzeliana, alinharam-se Kjéllen, Maul, Mackinder, Spykman e o Haushofer. Mahan, norte-americano, anterior a Ratzel, pode ser considerado o precursor da teoria geopolítica com a sua concepção de “destino manifesto”, que tanta influência teve nos rumos da política exterior dos Estados Unidos.

O despretígio da geopolítica como ciência vem de sua apropriação pelos adeptos do Gen. Karl Haushofer que, depois da ascensão de Hitler na Alemanha, apoderaram-se do Instituo de Munique e transfomaram a geopolítica em um pretexto científico para justificar as teses do expansionismo nazista. A teoria do lebensraum - espaço vital - que dominou o espírito geopolítico da Alemanha nazista, foi responsável pelo seu descrédito como ciência. ( Mattos, 1979, p. 4 )

Para o general Golbery do Couto e Silva ( 1981 ), por sua vez, a geopolítica de Kjellén, tanto quanto a de Haushofer, sempre se propôs a ser conselheira da política, sendo essencialmente uma arte, uma doutrina, uma teoria e nunca uma ciência. Para Kjellen, ela era apenas um dos cinco grandes ramos em que dividia a política; e, embora nas múltiplas definições da escola alemã se fale tanto em arte, como em doutrina e mesmo em ciência, a geopolítica é sempre caracterizada como “base da ação política”; o próprio Haushofer buscou ressaltar o seu caráter dinâmico. ( Silva, 1981, p. 29 )

A geopolítica é sobretudo uma arte - arte que se filia à política e, em particular, à estratégia ou política de segurança nacional, buscando orientá-las à luz da geografia dos espaços politicamente organizados e diferenciados pelo homem. Seus fundamentos se radicam, pois, na geografia política, mas seus propósitos se projetam dinamicamente para o futuro. ( Silva, 1981, p. 33 )

A geopolítica nada mais é que a fundamentação geográfica de linhas de ação política, quando não uma proposição de diretrizes políticas formuladas à luz dos fatores geográficos, em particular de uma análise calcada, sobretudo, nos conceitos básicos de espaço e de posição. Um dos ramos, portanto, da política, como a imaginara o próprio Kjellén e sempre a qualificou, entre nós, o mestre Backheuser: “política feita em decorrência das condições geográficas”. ( Silva, 1981, p. 64 )

Wanderley Messias da Costa ( 1992 ) , por sua vez, observa:

... Descartadas as confusões e dissimulações em torno do rótulo, pode-se afirmar com relativa segurança que a geopolítica, tal como foi exposta pelos principais teóricos, é antes de tudo um subproduto e um reducionismo técnico e pragmático da geografia política, na medida em quem se apropria de parte de seus postulados gerais, para aplicá-los na análise de situações concretas interessando ao jogo de forças estatais projetado no espaço.

Nesse sentido, a exemplo do que ocorre com parte da ciência econômica em relação à economia política clássica, a geopolítica representa um inquestionável empobrecimento teórico em relação à análise geográfico-política de Ratzel, Vallaux, Bowman, Gottmann, Hartshorne, Whittlesey, Weigert, e tantos outros. Essa é a questão essencial, desde logo, que deve sobrepor-se às demais, a começar dos artifícios notoriamente simplórios como o de tentar situá-la como “ciência de contato” entre a geografia política e a ciência política, a ciência jurídica, etc., bastante comum nas introduções de inúmeros generais-geógrafos-geopolíticos, a começar por Haushofer.

Por outro lado, o assunto também está sujeito a todo tipo de confusão terminológica, já que análises e estudos ditos geopolíticos podem freqüentemente tratar-se de estudos geográficos-políticos, preferindo os autores a utilização da primeira expressão por simples comodismo vocabular ou modismos. Finalmente, e após um processo de “filtragem” por que passou no período do pós-Segunda Guerra, especialmente em suas conotações ideológicas vinculadas ao nazismo, muitos autores, até mesmo os críticos da velha geopolítica, passaram a adotar esse rótulo em seus estudos de geografia política. ( 1992, p. 55-56 )

Bertha K. Becker ( 1988 ) , por sua vez, observa que a busca de novos paradigmas da ciência e o rompimento das barreiras entre as disciplinas - a transdisciplinaridade - parecem hoje tornar-se uma exigência. E o rompimento da barreira entre a geografia e a geopolítica numa perspectiva crítica, integrando a natureza holística e estratégica do espaço, pode representar um passo importante nesse caminho, pois que o poder e o espaço e suas relações são, sem dúvida, problemáticas contemporâneas significativas.

Neste ponto, há uma distinção clara entre Becker e Costa. Este último destaca o caráter ideológico que a geopolítica tem; para Becker, no entanto, a geopolítica tem um caráter instrumental que não pode ser desprezado, embora isto não a leve olvidar da ideologia que permeia a geopolítica, como podemos perceber pela passagem abaixo.

“Mas a herança de Ratzel, embora por alguns exacerbada, foi, em geral, negada pelos geógrafos que, ao recusarem sua concepção determinista, negaram também toda a sua riqueza teórica. Sua herança foi por outro apropriada.

Permaneceu, assim, a Geografia, à margem de todo um conjunto de técnicas e de um saber que instrumentalizam e pensam o espaço a partir da ótica do Estado ( e também da grande empresa ) - embora com ele colaborando direta ou indiretamente - o que certamente a esvaziou de seu conteúdo.

Negar, portanto, a prática estratégica, seja a das origens da disciplina, seja a teorizada por Ratzel, seja a da Geopolítica explícita do Estado Maior ou a implícita na prática dos geógrafos, é negar a própria Geografia, que foi, assim, prejudicada no seu desenvolvimento teórico e na sua função social. E repensar a Geografia envolve necessariamente o desvendar da Geopolítica, sua avaliação crítica e seu resgate, e o trazer desse conhecimento para debate na sociedade. Em outras palavras, nesse campo de preocupações, à Geografia caberia a teorização sobre a prática estratégica desenvolvida pela Geopolítica.

...

A Geopolítica que queremos resgatar é a do reconhecimento, sem fetichização, da potencialidade política e social do espaço, ou seja, a do saber sobre as relações entre espaço e poder. Poder multidimensional, derivado de múltiplas fontes, inerente a todos os atores, relação social presente em todos os níveis espaicias. Espaço, dimensão material, constituinte das relações sociais e, por isso mesmo, sendo, em si, um poder.

A tentativa desse resgate é aqui apresentada em questões que constituem a nossa prática atual de pesquisa, sem a menor pretensão de esgotá-las..( 1988,.p. 100 )

A dúvida, no entanto, que se abre da leitura do texto de Becker é se ela não confunde o resgate da dimensão política do espaço com o resgate da própria geopolítica. Não podem ser considerados procedimentos distintos ? Mas, por outro lado, é possível retomarmos uma análise do conteúdo político do espaço sem termos em conta o legado da geopolítica ?

Ela propõe resgatar a geopolítica :

“Resgatar não significa negar e sim reler criticamente, aceitando o que se considerar uma contribuição e descartando o que se considerar inaceitável. A postura metodológica aqui adotada para tal releitura é a que privilegia a construção do objeto de estudo e não o objeto em si. A Geopolítica não está dada - ela é construída hoje, no atual período histórico, pelo trabalho humanao tanto material quanto intelectual e, assim produzida, tem movimento e abertura para o indeterminado, que é essencialmente político. Trata-se, portanto, de reconstruir o processo de sua produção material e intelectual no final do Século XX, detectando as forças que nele atuam.

....

É, portanto, no contexto da instrumentalização do espaço - e do tempo - bem como do reconhecimento de sua potencialidade que se pode resgatar a dimensão política da Geografia contida no seu projeto original e posteriormente renegada.” ( Ibidem, p. 101 )

Nesta passagem, Becker destaca o objeto em construção, estando a indicar que se a geopolítica foi o quê muitos condenam, poderá vir a ter outro perfil. Poderá mesmo ? Qual a raiz da geopolítica ? Acaso não é o raciocínio pautado em dados geográficos voltado para a luta ?

A cerne da geografia política/geopolítica para Becker encontra-se em duas contribuições de Ratzel, a saber:

1 - A Geografia Política como base de uma tecnologia espacial do poder do Estado. A Geografia Política deveria ser um instrumento para os dirigentes que, em contrapartida, aprenderiam a instrumentalizá-la. Ela explica que, para compreender a natureza de um império, é necessário passar pela escola do espaço, isto é, de como tomar o terreno ( Korinman, 1987 ). Daí a importância atribuída à Geoestratégia e à concepção da situação geográfica como um dispositivo militar para o geógrafo que analisa o comércio e as relações em geral, a economia, sempre configurada espacialmente, é a guerra; os fatos do espaço são sempre singulares, cada qual situado na interseção de processos diversos, onde precisamente devem atuar as estratégicas.

2 - A busca de leis gerais sobre a relação Estado-espaço. A busca de leis gerais reside na ligação estreita do Estado com o solo, considerado a única base material da unidade do Estado uma vez que sua população, via de regra, apresenta-se diversificada. Assim, politicamente, a importância absoluta ou relativa do Estado é estabelecida segundo o valor dos espaços povoados.

Como uma forma de vida ligada a uma fração determinada da superfície da terra, o Estado tem como propriedades mais importante o tamanho do seu espaço ( raum ), a sua situação ou posição ( lage ) em relação ao exterior - conceitos - chave da Geografia - e as fronteiras.

Se o desenvolvimento do Estado é um fato do espaço, Ratzel admite que seu laço com o solo não é o mesmo em todos os estágios da evolução histórica; em sete leis do crescimento do Estado, estabelece que o crescimento deste depende de condições econômicas e da incorporação de novos espaços, e é tarefa do Estado assegurar a proteção de seus espaços através da política territorial.

A concepção organicista de Ratzel não se restringe a comparar o Estado a um ser vivo. Ela reside na naturalização do Estado, entendido como única realidade representativa do político, única fonte de poder. Todas as categorias de análise procedem de um só conceito; Estado e nação se confundem em um só ator, o Estado indiviso, como algo natural, preestabelecido, não se concebendo conflitos a não ser entre Estados.

Isso não elimina sua contribuição básica sobre a tecnologia espacial do poder e sobre a relação Estado-espaço naquele período histórico. Um segundo momento crucial da relação Estado-espaço se configura no segundo pós-guerra, não previsto por Ratzel. ( Ibidem, p. 103 )

Pelo exposto, Becker destaca a postura de quem produz o estudo geográfico, que deve ser passível, ou não, de recriminações. Deste modo, não se deve imputar a um rótulo, no caso geopolítica, a encarnação de algo inválido.

Assim, Becker elogia em Ratzel o fato deste ter colocado o Estado dentro das preocupações geográficas. O que cabe, então, é manter este caráter renovador de seu pensamento, ao vislumbrar novos horizontes para a geografia política.

Para Becker, a nova geopolítica, na verdade, resultará da interação entre dois processos, a reeestruturação tecnológica e os novos movimentos sociais. No entanto, ela ensina que esses movimentos e os atores políticos só poderão reverter as tendências atuais se forem capazes de se situar no novo domínio histórico resultante da revolução tecnológica e da reorganização do capitalismo.

Wanderley Messias da Costa ( 1992 ) sobre a proposta de Becker, observa que ela é inovadora :

“...sob todos os aspectos, e põe em debate no país questões fundamentais que transcendem o âmbito da geografia. Independente do rótulo pouco apropriado ( por que não resgatar a Geografia Política, que afinal sempre gerou as “geopolíticas” ? ), o seu trabalho ( e de seu grupo ) é realmente notável, especialmente porque introduz essa reflexão incorporando o que há de mais avançado no setor ( assunto com o qual nos ocuparemos adiante ). Com ele, também, Bertha Becker não resgata esse campo de reflexões apenas para a Geografia, mas, ao lados de alguns poucos estudiosos desses temas nas ciências sociais, recupera-o para o ambiente acadêmico. A considerar-se a nossa peculiar história política, isto equivale, no Brasil, a um legítimo resgate civil. ( 1992, p. 228 )

Ao refletirmos sobre a consideração acima, parece-nos que Becker deseja resgatar algo que o primeiro deseja preterir, ou seja, Becker intenciona encontrar na geopolítica instrumentos para melhor resgatar o teor político da geografia. Já Costa, ao entender que a geopolítica só se apresenta como um engodo ideológico, cabe então descartamos de nosso intinerário uma preocupação com a mesma !

Na nossa interpretação, a origem histórica dos dois termos, geopolítica e geografia política, está pautada pela situação de que esta última está mais identificada com a formação de diagnósticos, enquanto a primeira com a proposição de medidas que digam respeito à ação do estado. No entanto, esta diferenciação, no curso dos estudos não se mostra tão decisiva para se compreender a diferença entre os dois campos. A rigor, nesta discussão, o que está em pauta é a questão da legitimidade entre a geopolítica e a geografia política.

Se não encaramos os dois rótulos como sinônimos, estes campos estão a disputar temas de estudos próximos. E sendo o caso, ao longo do tempo, um ou outro estará sobressaindo ...

  • Conclusão

Entendemos, que a geopolítica, tal como se apresenta hoje, e pelo que foi no passado, parece estar mais apta à realçar o conteúdo político da geografia. A geopolítica apresenta uma maior densidade política em função, de um lado, por estar marcada por uma maior interdisciplinaridade ( envolvendo diretamente a ciência política, assim como a ciência social ) , mas, sobretudo, por estar voltada para a luta/guerra, algo comum na história humana.

Entendemos, também, que o caráter intrincado do poder na geografia solicita uma melhor compreensão quando temos a perspectiva de que uma guerra está sendo travada ( mesmo quando o conflito é incruento, como numa luta comercial ). Esta familiaridade com a guerra, podemos verificar mais claramente na geopolítica !

Pode-se argumentar que na geopolítica encontra-se uma dimensão ideológica, sustentadora, por exemplo, da ação do Estado. No entanto, esta dimensão ideológica adquire corpo quando se trava uma luta. Se a pessoa opta em aceitar ou combater este viés, isto decorrerá de sua inserção na sociedade. Inclusive, poderíamos pensar em sentido semelhante em relação à geografia política, à qual não se atribui uma função ideológica ... ora, este caráter não ideológico da geografia política parece ser a sua própria ideologia ...

Deste modo, o campo de estudo da geopolítica é, necessariamente, um campo que envolve todos os artifícios para se controlar as diferentes partes do planeta, inclusive fazendo uso da ideologia. Deste modo, quem se dedica à geopolítica cabe percorrer as linhas de pensamento à luz dos dilemas que envolviam aqueles que as elaboraram; o que, aliás, é algo próprio de quem se debruça sobre as ciências humanas como um todo, pois estas estão marcadas pelas circunstâncias históricas, ideológicas, etc.

BIBLIOGRAFIA

ANDRADE, Manuel Correia de ( 1989 ) - Geopolítica do Brasil. São Paulo: Ed. Ática.

BECKER, Bertha Koiffman ( 1988 ) - “A Geografia e o resgate da Geopolítica” . Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, ano 50, n. especial, t. 2. Rio de Janeiro: IBGE, pp. 99-126.

CASTRO, Teresinha de et CARVALHO, Delgado de ( 1956 ) - “Geografia Política e Geopolítica”. Boletim Geográfico nº 133, Rio de Janeiro : IBGE, p. 386.

COSTA, Wanderley Messias da ( 1992 ) - Geografia Política e Geopolítica. São Paulo, Ed. Hucitec.

MAGNOLI, Demétrio ( 1988 ) - O que é geopolítica, São Paulo : Brasiliense.

MARTIN, André ( 1993 ) - As fronteiras internas e a “questão regional” do Brasil .Tese de doutorado. São Paulo: USP.

MATTOS, Gen. Meira ( 1979 ) - Brasil - geopolítica e destino, 2ª edição. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio.

MELLO, Leonel Itaussu Almeida ( 1999 ) - Quem tem medo da geopolítica ? . São Paulo: Ed. Hucitec/Edusp.

MIYAMOTO, Shiguenoli ( 1995 ) - Geopolítica e poder no Brasil. Campinas, SP - Papirus.

RAJA GABAGLIA, F. A. ( 1945 ) - “Ratzel e a Geografia Moderna”. Boletim Geográfico nº 30, Rio de Janeiro : IBGE, p. 840.

SILVA, Gen. Golbery do Couto e ( 1981 ) - Conjuntura política nacional. O poder executivo & Geopolítica do Brasil . 3ª edição. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio.

SODRÉ, Nelson Werneck. ( 1976 ) - “A geopolítica”In Introdução à geografia. Petrópolis: Ed. Vozes, pp. 54-71.

TOSTA, Octávio ( 1984 ) - Teorias geopolíticas. Rio de Janeiro: Ed. Biblioteca do Exército.

TRAVASSOS, Mário ( 1938 ) - Projeção continental do Brasil, 3ª edição. São Paulo : Cia Editora Nacional.

VASCONCELOS, Adirson ( 1978 ) - A mudança da capital. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal.

VESENTINI, José William ( 1996 ) - A capital da geopolítica , 4ª edição. São Paulo: Ed. Ática.

WAIBEL, Leo ( 1961 ) - “ Determinismo Geográfico e Geopolítica ( contribuição ao problema da mudança da capital ) ”.In Boletim Geográfico nº 164, Rio de Janeiro: IBGE, pp. 612-617.

Teoria das Cordas


Teoria das Cordas



Por: Hélio Barnabé Caramuru

Engenheiro/Pesquisador Independente em Ciência Teórica



Abstract

The matter is always in movement of transformation. The nature never stops. But it is a movement by cycles that is with the meaning that has a start, middle and an end but starts all over again. What we want to say is that the particles one day belonged to an atom and after it dispersed for again readjusted on another atom equal to first one. On this constant movement the particles creates vibrations like a rope that gave to scientists the idea of vibrating chords. It will be shown here the correction of the idea.

Resumo

A matéria está em constante transformação. A natureza jamais pára; ela está em eterno movimento; é, porém, um movimento em ciclos fechados, cíclicos, isto é, com começo, meio e fim e . . .recomeço.O que queremos afirmar é que as partículas que um dia pertenceram a um átomo voltarão a se 'combinar' e tornarão a formar novamente outro átomo, em tudo semelhante àquele a que pertenceram num estágio anterior. Falamos aqui na reciclagem e suas características da natureza.

A natureza, com a sua misteriosa evolução constituída por uma infinidade de 'sistemas' que parecem, de certo modo, independentes entre si como se fossem um mundo à parte, precisa ser mais bem conhecida. Sabemos, a cada dia, somente mais um pouco de sua intimidade, como se ela regulasse o nosso desenvolvimento cultural.

Mostraremos, através da teoria 'A Matemática da Evolução', como a matéria 'vibra' em seus estágios evolutivos, descortinando o que a Ciência chama de 'Teoria das Cordas'. Em breve saberemos um pouco mais sobre o nosso próprio destino evolutivo.

A equação característica da teoria 'A matemática da evolução'

Desenvolvida através de racional constatação da aplicação da teoria da probabilidade, e constantes verificações das quantidades que a natureza em seus diversos processos de evolução nos apresenta em centenas de fenômenos naturais, deduzimos a equação representativa da teoria, a qual mostramos logo abaixo:


B é um fator que combinado com C produz o fenômeno da evolução em função dos períodos n em que se dão as transformaçõese das famílias i resultantes do fenômeno.

Através dessa teoria pudemos constatar a evolução de muitos fenômenos naturais e descobrir surpreendentes detalhes do comportamento da natureza. Pretendemos aqui dar alguns esclarecimentos que, a nossa ver, podem esclarecer o que a Ciência chama de 'Teoria das Cordas'.

Exemplo de verificação da equação característica da teoria

Tomemos para ilustrar este artigo o decaimento do Urânio 238 (Curvas do Urânio, do Chumbo e do Hélio) que, segundo os cientistas Lucien Rudaux e Irving Kaplan, no livro 'Astronomia' -Editora Labor S/A que consideram para o fenômeno os valores de C = 100 % e B = 13,5%. Esta informação de muitos anos atrás foi o primeiro estimulo que recebemos para desenvolver a teoria 'A matemática da evolução'.

Referindo-se às massas dos elementos, podemos formar a matriz de valores percentuais; teremos:


O decaimento do U238, (i = 0) se determina através do cálculo de uma 'progressão geométrica decrescente' com origem em C = 100% e razão de (C – B/C) que neste caso é igual a [(100 – 13,5)/100] = 0,865.

Teremos:

100 * 0,865 = 86,5000;86,5000 * 0,865 = 74,8225;74,8225 * 0,865 = 64,7215 e,

assim por diante. Os demais elementos H1,1;H2,1;H2,2;H3,1;H3,2;H3,3; . . . Fo

ram calculados pela equação característica da teoria 'Á matemática da evolução' conforme mostramos acima.

Os autores não disseram quais são os elementos das famílias i = 3; i = 4; e i = 5; etc. na matriz apresentada acima. A unidade do Período n é considerada em 1 bilhão de anos.

ModusOperandi para a formação dos quantitativos em cada período n

Vamos tomar como exemplo ilustrativo para este artigo a formação dos elementos

H4,0; H4,1; H4,2; H4,3 e H4,4: (Período n = 4 e i = 0, 1, 2, 3, 4).

O elemento H3,0 irá perder a quantidade de 64,7215 * (B / C); como B / C é =0,135, teremos o valor 64,7215 * 0,135 = 8,7374. Assim, a quantidade para H3,0ficará

64,7215 – 8,7374 = 55,9841. O elemento H3,0 perderá essa quantidade (8,7374) e passará para o período n = 4, isto é, para o elemento H4,0 com o valor 55,9841 como visto na matriz.

Pela operação efetuada acima o elemento H3,1 após perder a quantidade:

- 30,3031 * (0,135) = 4,0909, receberá a quantidade 64,7215 * 0,135 = 8,7374 passando ao valor de 34,9496 que é o valor (na matriz) de H4,1.

- Procedendo da mesma forma para os demais elementos H3,2; H3,3 obteremos os elementos H4,2; H4,3 e H4,4.

Noutras palavras podemos dizer que os valores H4,i foram formados pelos elementos H3,i com as operações de mudança do período 3 para o período 4.

A lei de formação dos valores do período n a partir dos valores do período n - 1

O que acabamos de verificar acima nada mais é do que a aplicação da teoria da probabilidade representada pelo valor B/C. Se a natureza 'ordena' que cada um de 'seus elementos' perca quantidades com a probabilidade (B / C) para

Então podemos deduzir que os elementos da matriz de um sistema em evolução estão todos relacionados entre si. Os elementos de uma mesma família i e os elementos que contém os elementos de um mesmo período n estão também relacionados ente si. Deduzimos daqui que há um 'tecido', uma 'trama' com as 'linhas' n e as'colunas' i. Acreditamos que a idéia de 'corda' fica mais bem enquadrada para as colunas das famílias (linhas verticais da matriz) i; os valores que apresentamos representariam os 'nós' das cordas.Os valores ('quanta' – Wn,i) que são transferidos de um 'nó' para o outro seriam estímulos que provocam as 'vibrações' nas 'cordas'.

Mas, somente os elementos dos períodos (n – 1) 'vibram' com as 'doações' e 'recepções' de quantidades que trocam entre si. Somente durante o período n – 1, com as doações e recepções é que acontecem as 'vibrações'. Será que terminadas as transferências de valores, entre os elementos dos períodos (n – 1) e n haverá um 'silêncio' sepulcral, até que decorrido o 'tempo pré-fixado pela natureza do fenômeno', novamente, se reinicie as novas vibrações para as 'passagens' de n para (n+1)? No caso do Urânio 238 o 'silencio' duraria 1 bilhão de anos?

Aqui daremos uma nova interpretação do fenômeno 'vibratório'. À medida que o número de períodos n cresce também cresce o número de famílias i. Para cada período n completo existirá n + 1 famílias i; isto é, o número de famílias em cada mudança de período n para n+1 é igual a n +1. Acreditamos que a 'freqüência nos 'nós da corda vibratória' da família i seja maior ou menor no período n em relação ao período (n – 1) conforme seja crescente ou decrescente os valores da sua curva correspondente.

Não diremos que essas ligações dos elementos das famílias i e dos períodos n formem 'cordas' na acepção do termo, mas de alguma forma elas existem e os elementos estão ligados por 'afinidades'.. . .Mecânica Quântica . . .

Engenheiro Hélio Barnabé Caramuru

Fonte: Webartigos.com | Textos e artigos gratuitos, conteúdo livre para reprodução. 1

1 A fonte do artigo e informações do autor devem ser mantidas. Reprodução apenas na Internet.

O BRASIL, A PETROBRÁS E O GOVERNO

O BRASIL, A PETROBRÁS E O GOVERNO







É impressionante a cultura da falta de transparência na gestão pública brasileira. Governo após governo, vemos repetir-se a odiosa prática da ocultação de denúncias de desmandos administrativos relacionados à coisa pública. Observe que o Partido dos Trabalhadores, antes de virar governo, era ferrenho defensor das Comissões Parlamentares de Inquérito – CPI e agora, no governo, esse mesmo partido arregimenta soldados, a fim de formar tropa de choque para evitar a CPI da Petrobrás. E o que é pior, não se percebe no semblante dos brasileiros, salvo algumas exceções, a perplexidade e indignação que tal prática deveria causar.

Insta refletir-se que não está se discutindo a transparência de uma empresa privada, mas de uma estatal, criada por lei, com dinheiro público, reconhecida por especialistas internacionais, como uma das maiores empresas do mundo, máxime no seu ramo de atuação, quando sabemos que a Petrobrás exporta tecnologia, e tecnologia de ponta, diga-se de passagem. Logo, se foi essa estatal criada com recursos públicos, infere-se, por ilação mais do que lógica, que foi ela criada com nossos recursos, ou seja, com recursos do povo e, em assim sendo, a classe política, principalmente o governo, tem a obrigação, e não simples faculdade, de prestar contas da administração dos gestores. Mas, infelizmente, não é isso que ocorre. De um lado, vemos a oposição, brigando por uma CPI; tudo bem, está fazendo o seu papel, todavia, o que causa espécie, é que esses mesmos paladinos da moral e da justiça, quando estão no partido da situação, integram a tropa de choque para barrar a CPI. E, do outro lado temos o governo e seus escudeiros, tentando, a todo custo barrar a criação da CPI, sob a pífia justificativa de que o motivo para tal tem conotação política. E daí? E se apurar-se que as irregularidades realmente existem? Ora, independentemente dos motivos que alavancam o pedido de investigações dessa natureza, o Governo tem obrigação de apurar as denúncias e punir os culpados, caso haja comprovação dos ilícitos apontados.

Ao tentar evitar a CPI o Governo demonstra claramente medo de vir a público os podres cometidos pelos gestores por ele indicados, como se isso configurasse uma derrota, o que é, no mínimo, um equívoco grosseiro. A apuração de fatos supostamente ilegais da coisa pública, mesmo que se confirmem, não traduz derrota para quem os indicou. Derrota e vergonha é a tentativa de barrar as apurações que se fizerem necessárias, denegando ao povo, verdadeiro titular da coisa pública, o direito de acompanhar e fiscalizar a utilização de seu dinheiro, arrancado através de pesada carga tributária, sem a correspondente contrapartida; basta observar o investimento – ou falta dele – na educação, na saúde e na segurança. Isso, sim, é motivo de vergonha e traduz triste derrota, porque todos perdemos.


Fonte: Webartigos.com | Textos e artigos gratuitos, conteúdo livre para reprodução. 1

Empirismo Inglês X Racionalismo Cartesiano

Empirismo Inglês X Racionalismo Cartesiano





René Descartes (1596 – 1660) é o pai da filosofia moderna. Descartes trata o problema do conhecimento como ponto culminante na filosofia. A teoria do conhecimento utiliza-se da relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento, o pensamento e as coisas, o interno e o externo. Os dois filósofos que iniciaram a observação da capacidade humana entre a verdade e o erro são Francis Bacon, filósofo inglês, e como já citado, o filósofo francês René Descartes. Porém o primeiro filósofo que trata inicialmente da teoria do conhecimento é John Locke, filósofo inglês. Essa teoria torna-se, portanto, ponto central da filosofia a partir do século XVII; também pode ser definida numa perspectiva de senso comum como a primeira filosofia que estabeleceu as bases da ciência moderna e contemporânea. Contudo, a filosofia alemã, por volta da metade do século XVIII, começa a se ocupar de uma filosofia científica, e não mais metafísica, fazendo com que se inicie o empirismo inglês, e influenciando Immanuel Kant que critica a razão dentro do racionalismo, para determinar os reais objetivos do conceito racional, pois Kant é inserido em um período ao mesmo tempo empirista e racionalista.

1. Racionalismo Cartesiano

Para reconhecer algo como verdadeiro, René Descartes considera necessário utilizar a razão e o raciocínio para transformar esse algo em idéias claras e distintas, com o objetivo de entender, estudar, compreender, analisar, criticar, questionar, o sistema, experimentar na razão e na ciência, ou seja, estudar racionalmente e cientificamente.

Descartes utiliza-se de uma intuição primeira como fundamento para a construção da filosofia, que é a questão da dúvida que surge em si mesmo, ou seja, o próprio ser que duvida, pois se duvido penso, e se penso, logo existo: "Cogito, ergo sum", "Penso, logo existo".

À partir do princípio de Descartes em que tudo pode ser duvidado e tudo poder ser passível de dúvida, surgem vários tipos de ideias, algumas confusas, duvidosas, e outras distintas, claras. Contudo, essas ideias distintas, claras, são as ideias verdadeiras, inatas, inerentes, ou seja, não possíveis de erros pelo fato de surgirem da razão, como por exemplo, a ideia da perfeição de Deus.

Para ter certeza que a razão não se engana pela realidade, Descartes toma como evidencia o que pode não passar de um erro de pensamento ou mesmo ilusão dos sentidos, e com isso, a ideia de Deus como um ser perfeito, pois ser um ser é perfeito, deve ter a perfeição da existência, caso contrário lhe faltaria algo para que fosse perfeito, portanto, Deus existe. Essas conclusões são possíveis a partir da sua metafísica, que é buscar a identidade da matéria e espaço, pois o mundo é formado pela mesma matéria em qualquer parte, sua extensão é infinita e o vácuo é algo impossível.

Com a conseqüência do "cogito" surge o fato, Descartes tendo uma grande valorização da razão e do entendimento, partindo do cogito, descobrem-se todas as verdades possíveis, e esse método cartesiano mostra de que e como o mundo é feito, possibilitando o desenvolvimento das ciências e os caminhos da dominação humana diante da natureza, e é com isso que as ideias claras e distintas mostram o mundo como algo que pode ser avaliado com precisão. Em seguida, a ciência, ainda baseada em qualidades duvidosas, a partir do século XVII torna-se matemática, capaz de reduzir todo o universo à mecanismos que podem ser medidos através da geometria.

Uma outra conseqüência que surgiu é o dualismo psicofísico, ou seja, o ser humano como ser duplo, composto de substância pensante e substância extensa, Esse fato serviu de tema de discussão nos dois séculos seguintes, sendo o corpo objeto de estudo para a ciência, e a mente objeto de estudo para a reflexão filosófica.


2. Empirismo Inglês

Empirismo significa experiência, e ao contrário do racionalismo, destaca como prioridade a experiência sensível no processo do conhecimento.

No empirismo a experiência sensível é fundamental, e o que vem depois da razão depende dessa experiência. O empirismo questiona o caráter da verdade, pois o conhecimento parte da realidade referente ao ser humano, tempo e espaço.

2.1 John Locke

O empirismo inglês se inicia com o filósofo John Locke (1632 – 1704), conhecido como o teórico do liberalismo. Locke parte do ponto de vista cartesiano propondo o problema metafísico de Descartes como o problema do conhecimento, e com isso inicia sua filosofia partindo da pergunta: "Qual é a essência, qual é a origem, qual é o alcance do conhecimento humano?". Essa importante reflexão encontra-se em sua obra Ensaio sobre o entendimento humano.

Investigando a origem das ideias, Locke utiliza-se do caminho da psicologia, pois assim como para Descartes, qualquer pensamento é todo fenômeno psíquico em geral. Por esse caminho Locke também mostra que existe diante das ideias, a sensação, que surge com a mudança mental através dos sentidos; e a reflexão que é obtida pela alma através de tudo que diante dela ocorre.

Portanto, para Locke, as ideias simples que surgem das sensações, das reflexões, ou da combinação entre elas, são as ideias correspondente à uma realidade que existe em si e por si mesma. Já o que causa essas ideias simples é a "qualidade" dos objetos, porém nem tudo tem o mesmo valor ontológico e por esse motivo Locke diferencia essas percepções como as qualidades primárias, que são a extensão, a solidez, a forma, o movimento, o repouso, o número, a impenetrabilidade dos corpos; e as qualidades secundárias que são a cor, o odor, a temperatura, o som, o sabor, etc.

Criticando a doutrina das ideias inatas de Descartes, afirma que o conhecimento só se inicia após a experiência sensível, pois se essas ideias existissem até mesmo uma criança teria desde que nascesse, a ideia de Deus como ser perfeito.

2.2 Francis Bacon

Para Francis Bacon, filósofo inglês (1561 – 1626), a valorização do domínio da natureza, parte do princípio de que "saber é poder". Filósofo da era industrial, em sua obra Novum Organum (Novo Órgão), revela seu interesse pelo método da ciência, onde "órgão" significa instrumento do pensamento, critica também a lógica de Aristóteles, pelo fato dos preconceitos e das noções falsas, dificultando a compreensão da realidade, chama-se isso de teoria dos ídolos.

A primeira coisa que a teoria dos ídolos pretende, é tornar o ser humano consciente das falsas noções que não permitem o caminho para as verdades. São quatro tipos de ídolos: os ídolos da tribo, que são criados pela própria natureza humana, na espécie humana, ou seja, a própria família humana ou "tribo"; os ídolos da caverna, que são procedentes do indivíduo por si só e impedido de conhecer a verdade devido aos defeitos e erros dos órgãos de sentido, esses erros e defeitos são provenientes tanto da própria natureza, quanto por sua educação ou hábitos; os ídolos do foro, também conhecidos como ídolos do mercado, são as opiniões que o individuo recebe através da linguagem e relação com outros indivíduos, bloqueando o intelecto; e os ídolos do teatro que são opiniões adquiridas pelos indivíduos através das autoridades impondo pontos de vista transformados em leis.

2.3 David Hume

Já David Hume, filosofo escocês (1711-1776), afirma que como não podemos observar os fenômenos e por isso esses não pertencem aos objetos, as relações são exteriores, ou seja, modos passados de um termo ou objeto a outro, associando-se pelas semelhanças.

Hume nega o principio da causalidade, ou seja, ele acredita na serie de acontecimentos dos fatos e sequência de eventos.

Portanto, todo o conhecimento deve advir das sensações, sem excluir a razão como a organizadora dos dados e informações dos sentidos.

3. A Critica Kantiana


Nascido na Alemanha, Immanuel Kant (1724-1804) oferece uma nova concepção à teoria do conhecimento, tentando superar a polêmica causada entre o racionalismo e o empirismo.

Kant afirma que o ser humano pode ser feliz e organizar a sociedade usando a razão como ferramenta, e que não é Deus que comanda a sociedade e sim a própria razão humana. Com isso, Kant nega que o ser humano conheça algo que seja totalmente superior á matéria, assim como afirmam os empiristas, e nega ainda que seja necessária somente a experiência para que o ser humano conheça a matéria, assim como os racionalistas.

Kant explica que tudo que conhecemos da matéria, é justamente o que a razão oferece á matéria, ou seja, as formas. Explica também que não se pode conhecer a essência das coisas, pois o noumenon (coisa em si) não permite acesso ao conhecimento, porém podemos conhecer os fenômenos que se tornam compreensíveis pelo fato de participarmos de sua construção.

Após anos de reflexão, Kant elabora teorias como a Critica da razão pura; Critica da razão pratica; e a Critica do juízo.

Na Critica da razão pura, Kant afirma que todo e qualquer conhecimento sobre a realidade sensível, nasce da experiência estruturada pelo tempo e pelo espaço. As representações oferecidas pela sensibilidade são ordenadas pelas "categorias do entendimento" que atuam como "moldura" das experiências. Essas características são a qualidade, quantidade, relação e modalidade. O conhecimento é um resumo onde o intelecto oferece a forma e a experiência oferece o conteúdo, essa relação é determinada pela imaginação, que Kant estabelece como faculdade criadora; Kant questiona ainda toda a metafísica, pois esta não pode ser uma experiência sensível, portanto não pode ser conhecida através da razão.

Na Critica da razão pratica, Kant retoma com a metafísica, afirmando que a razão pratica trata da ação moral, pois os seres humanos agem por sua própria vontade seja ela boa ou má, já a ética não pode cair em "ilusão". Portanto a moralidade prova que existe algo que transcede o sensível, ou seja, prova a existência de Deus, formulando assim a metafísica da ética.

Em sua ultima teoria, a Critica do juízo, Kant estuda as noções de finalidade e beleza, que não podem ser explicadas pela experiência mas que são inerentes ao ser humano. Essa intuição estética conclui a relação entre a imaginação e o entendimento, fazendo com que a imaginação se torne sensível e a sensibilidade se torne racional.

As principais questões que Kant se preocupa são: "Como justificar filosoficamente a física?", e "Como justificar a moralidade?".

Portanto, Descartes valoriza a razão diante dos sentidos e da tradição, e Kant valoriza a forma do conhecimento, espontâneo da razão, que é oferecida pela sensação.

4. Conclusão

Para Descartes, nem as ideias e nem os sentidos, podem nos dar alguma certeza ou nos levar ao entendimento da realidade. Por esse motivo tentando desenvolver uma forma de se chegar a verdade, estabelece um sistema de raciocínio baseado na duvida e que não conduz à certezas ou verdade, reconstruindo assim a metafísica clássica, afirmando que a essência do ser humano se encontra no pensamento.

Já a teoria de Kant busca alcançar uma universalidade para a teoria do conhecimento.

Portanto, o racionalismo mostra que o conhecimento nasce através das ideias inatas, ou seja, que o pensamento do ser humano é capaz de deduzir as coisas do mundo; e o empirismo mostra que a experiência do ser humano é adquirida através das percepções do mundo externo, abstraindo essas realidades exteriores e modificando-as através da mente.

Bibliografia

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia, 2º edição. São Paulo: Paulus, 2005.

ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando, 3º edição. São Paulo: Moderna, 2007.

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia, 12º edição. São Paulo: Ática, 2002.

MORRENTE, Manuel Garcia. Fundamentos de filosofia, 8º edição. São Paulo: Mestre Jou, 1980.

KANT, Immanuel. Disponível em: <http://www.estudantedefilosofia.com.br>. Acesso em 22 mai. 2009.

EMPIRISMO e RACIONALISMO. Disponível em: <http://www.irtonjo.com>. Acesso em 22 mai. 2009.

EMPIRISMO. Disponível em: <http://www.marilia.unesp.br>. Acesso em 22 mai. 2009.

Fonte: Webartigos.com | Textos e artigos gratuitos, conteúdo livre para reprodução. 1

Consumo x Meio Ambiente

Consumo x Meio Ambiente


Por Manuela Rocha Paixão Sem avaliações


Como os padrões de desenvolvimento sociais e de consumo atuais interferem nas relações do homem com o Meio Ambiente

Manuela Rocha Paixão

Professora de Geografia, licenciada pela Faculdade

de Tecnologia e Ciências - FTC/Ead e especialista em Educação Ambiental pela Unidade Baiana de Ensino Pesquisa e Extensão - UNIBAHIA


RESUMO

Este artigo fundamenta-se em análise acerca da hodierna sociedade que se baseia na produção e no consumo, a qual suscita impactos ambientais, causados pela modernização industrial. Considera-se o progresso científico e tecnológico determinantes pelas maiores agressões ao meio ambiente, uma vez que, os modos de produção adotados pelo homem moderno não foram capazes de proporcionar um convívio equilibrado e uma interação saudável sociedade /natureza. Assim sendo, parte do processo de industrialização surgida na Europa no século XVIII ao progresso científico tecnológico dos dias atuais, relacionando tal fato aos impactos ambientais gerados, bem como a formação de uma sociedade consumista, consolidada pelo capitalismo puramente lucrativo indissociável com a preservação ambiental. Espera-se uma reflexão a respeito das sociedades industriais contemporâneas, de forma a emergir uma visão de que o homem como parte integrante do meio ambiente possa mudar paradigmas em busca da sustentabilidade. Isso implica o não esquivar-se da responsabilidade própria, tornando os problemas ambientais alheios apenas ao poder público, mas sim por toda a sociedade. Logo urge a necessidade de rupturas de conceitos, na busca de um padrão de vida melhor a todos, a qual prevaleça um equilíbrio entre homem/natureza/economia.

Palavras-chave: Meio Ambiente, Sociedade, Indústria, Produção, Consumo, Impactos Ambientais, Sustentabilidade.

abstract

This article is based on analysis of the modern society which is based on production and consumption, which raises environmental impacts caused by industrial modernization. It is considered the scientific and technological determinants for the largest assault to the environment, since the production methods used by modern man were not able to provide a balanced coexistence and interaction a healthy society / nature. Thus, part of the process of industrialization has emerged in Europe in the eighteenth century to scientific technology of today, this fact relating to environmental impacts generated as well as the formation of a consumerist society, consolidated by profit indissolubly pure capitalism with environmental preservation. It is a reflection about the contemporary industrial societies in order to emerge a vision of that man as an integral part of the environment can change paradigms in search of sustainability. This implies not flinch from their own responsibility, making the environmental problems beyond just the government but by society as a whole. Once the urgent need for disruption of concepts, in search of a better standard of living for all, which prevails an equilibrium between man / nature / economy.

Keywords: Environment, Society, Industry, Production, Consumption, Environmental Impacts, Sustainability.


INTRODUÇÃO

A industrialização atual resulta de um processo evolutivo iniciado com a Revolução Industrial ocorrida na Europa e particularmente na Inglaterra a partir do século XVIII. Esse período industrial significou a passagem de uma sociedade rural e artesanal para uma sociedade urbana e industrial.

Paralelamente à industrialização desenvolveu-se o capitalismo, o qual conheceu inicialmente o estágio concorrencianal (livre concorrência) e a seguir o estágio monopolista (segunda metade do século XIX em diante).

Decorrente de um desenvolvimento que não considerou os impactos relevantes da revolução industrial e a finitude dos recursos naturais o século XX testemunhou o maior e mais rápido avanço tecnológico da história da humanidade e também as maiores agressões ao meio ambiente.

Produtos que consomem uma enorme variedade de recursos extraídos da natureza, não são oferecidos como necessidades, e tornaram-se emblemáticos na sociedade de consumo que se traduz como democrática, pois teoricamente, todo esse poder está ao alcance dos ricos e dos pobres.

O meio ambiente vem se constituindo em uma das mais importantes dimensões da vida humana e é objeto de análise de diferentes grupos e classes que compõe a sociedade contemporânea. Sociedade esta que se baseia na produção e no consumo, gerando incertezas quanto a possibilidade de inventar ou recompensar os problemas causados pela modernização industrial.

A complexidade da vida está muito associada ao processo de globalização. Por um lado este é o modelo de desenvolvimento econômico que acentua as desigualdades e a exclusão social, por outro, é a expressão de movimento de tomada de consciência dos limites naturais, da eliminação das fronteiras entre as nações como resultado dos avanços tecnológicos e científicos.

Dentre as dificuldades para consolidar uma agenda ambiental no atual palco político, encontramos o desafio posto de compreender as circunstâncias nas quais será possível conjugar consumo, defendido pelas grandes empresas e potências mundiais, contrapondo-se a sustentabilidade ambiental necessária manutenção das reservas e da vida.

Para alguns pesquisadores, além de uma gestão racional e ecológica dos recursos, ambientais, é preciso uma reeducação ecológico-ambiental sem desprezar as reais necessidades da sociedade no que se diz respeito ao consumismo, onde se compreenda os critérios de interdisciplinaridade científica, as leis de sobrevivência do planeta, bem como as perspectivas diferenciadas da cultura, do ser e do pensar humano.

REFERENCIAL TEORICO

PROGRESSO E DESEQUILIBRIO AMBIENTAL

Historicamente, o capitalismo subsidiado pela ciência e pela tecnologia moderna consolidou processos de desumanização da natureza e desnaturamento do homem, elaborados pelas etapas da construção da ciência moderna, baseada no racionalismo, confirmando externalidades recíprocas entre o homem e a natureza, ou seja, o homem entendido como ser excluído do conceito de natureza, estando acima desta, pela superioridade de sua propriedade racional, legitimando a degradação da natureza, percebida meramente como fonte inesgotável dos mesmos recursos, pois, considerava-se que a natureza possuía mecanismos e engrenagens, tal como as máquinas, que a capacitava a reproduzir-se eternamente de maneira homogênea. Esta visão orientou, por exemplo, o capitalismo mercantil responsável pelos primeiros projetos de exploração do território brasileiro. (MORAES,2002).

O mundo atual nos apresenta a soberania da ciência e da tecnologia através dos avanços científicos jamais registrados anteriormente pela história da humanidade. A ciência e a tecnologia confirmaram benefícios para o homem, mas também possibilitou comprometimentos negativos relativos ao ambiente social e natural (SOARES, 2004).

Os modos de produção adotados pelo homem moderno não foram capazes de proporcionar um convívio equilibrado e uma interação saudável sociedade /natureza. A percepção que a sociedade humana sempre teve e ainda traz consigo da natureza é uma visão antropocentrista e de dominação, onde ela reina e comanda sobre tudo e todos. Contudo o modo de produção capitalista, fundamentado na exploração do trabalhador e da natureza, não se apresenta como o modelo de desenvolvimento que busque a sustentabilidade ambiental.

O capitalismo está fundamentado no lucro e no consumismo sendo o mesmo incompatível com a conservação da natureza ( FILHO e SAMPAIO,2004).

Como mostram MELO e OLIVEIRA (2000) "A exploração do trabalho, a fome, a xenofobia, a exclusão social e a degradação ambiental, são problemas recorrentes, motivados, dentro de um sistema cujas causas se misturam às conseqüências, pelo desordenamento econômico".

A MODERNA SOCIEDADE CONSUMISTA

A socióloga Valquíria Padilha (2007), explica que o cidadão foi reduzido a consumidor através de uma série de estratégias que construíram o capitalismo e o neoliberalismo. O consumo acabou se tornando um fator importante de construção de representações sociais.

Para alguns pesquisadores, consumir é indispensável para fazer a economia girar e os países se desenvolverem. Para outros, o consumo desenfreado é uma grave doença moderna, com complicadas conseqüências para a sociedade e para o meio ambiente. Consumir geraria demanda, que por sua vez geraria maior produção por parte das indústrias, estimulando o surgimento de novos empregos, o aumento de salários e até mesmo o investimento em novas tecnologias para aprimorar a produção. Por muito tempo, essa foi uma corrente de pensamento econômico predominante nos países capitalistas. Mas esse modelo neoliberal, que tinha os Estados Unidos como seu principal representante, está sendo cada vez mais questionado ( RUSCHEINSKY, 2006).

Para Sachs (1986), o meio ambiente deveria ser a base ecológica do processo de desenvolvimento.

Até a década de 1980, havia um relativo consenso de que os atuais níveis de degradação do meio ambiente provinham, basicamente, das relações capitalistas. Contudo, nas décadas predecessores, uma corrente de pensadores da Teoria Social pôs em movimento reflexões sobre padrões de produção numa escala mais ampla. Houve, assim, a necessidade de buscar novas explicações para os níveis de degradação, haja vista situação ambiental dos países do então mundo socialista (SILVA e RODRIGUEZ,2001).

Christiansen and Sandoe (2000) concordam em que é inegável a influência da questão ambiental no mundo dos empreendimentos, a tal ponto que as empresas que compreenderem tal realidade irão obter vantagens estratégicas.

O INDUSTRIALISMO E A QUESTÃO AMBIENTAL

À época, o conceito industrialismo, e seus correlatos, foram eleitos como ferramenta teórica para explicar a questão, uma vez que abarcava tanto o capitalismo quanto o socialismo. Seu vigor explicativo, contudo, enfrentou críticos como Giddens. Segundo GOLDBLATT (1996), ao analisar os argumentos publicados em "The Nation-State and Violence", lançado em 1985, o conceito sociedade industrial é incompleto em dois pontos: Primeiro, não consegue explicar a qualidade dinâmica da modernidade, os seus poderes de transformação inerentes e contínuos e a aceleração da escala e velocidade das transformações sociais. Nenhuma das descrições habituais da sociedade industrial, nem mesmo a descrição do industrialismo de Giddens conseguem dar uma explicação para estes fatos. Segundo, a noção de uma sociedade industrial deveria sugerir que o industrialismo, na sua qualidade de ordem produtiva, tem um efeito considerável na constituição e organização de outras estruturas sociais.

A procura de um novo paradigma de desenvolvimento, contraposto ao modelo de crescimento econômico dos países centrais, vem-se tornando cada vez mais urgente, diante de um cenário agravado por um contexto mundial em rápida mutação, marcado pela integração desigual dos mercados, pela movimentação espetacular dos fluxos financeiros, pela produção e consumo desenfreados, pela pressão exponencial sobre o meio ambiente, pela uniformização de valores de atitudes, de comportamentos, de produtos, de estilos de vida. São fatos que revelam a insustentabildade do modelo de desenvolvimento socioeconômico capitalista, então prevalecente, sobretudo diante da insuportável desigualdade e exclusão da maioria (RAMALHO FILHO, 2000, in: SACHS, 2000).

GOLDBLATT (1996), crítica os ecologistas verdes, ao identificar como causa estrutural da degradação ambiental o capitalismo em lugar do industrialismo, mas distante do marxismo, porquanto salienta, com muita propriedade, o papel da cultura e da política, dando como exemplo a sociedade urbana.

A Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo de 1972, projetou mundialmente a necessidade de tomadas de posição dos países, em especial os industrializados, frente ao modelo de desenvolvimento vigente, caracterizado pelas ações econômicas que consideravam os recursos naturais como fonte inesgotável de riqueza, levando à degradação ambiental e humana (Albuquerque, 2006).

A Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo de 1972, projetou mundialmente a necessidade de tomadas de posição dos países, em especial os industrializados, frente ao modelo de desenvolvimento vigente, caracterizado pelas ações econômicas que consideravam os recursos naturais como fonte inesgotável de riqueza, levando à degradação ambiental e humana.

A posição pró-ativa de industriais em relação à questão ambiental é, entretanto, fato recente. Conforme GOMES (1998), é recente também o impacto causado pela atividade industrial humana no ambiente global. Para o autor, a empresa, que a pouco mais de um século mantinha um interesse quase insignificante em relação à natureza, o que propunha uma visão irresponsável de desenvolvimento, evoluiu para uma nova postura, o gerenciamento dos recursos naturais e de exame atento dos projetos em relação a seus futuros impactos ambientais.

Inúmeras tendências teóricas tendem a aceitar a suposição de que o maior responsável pelo quadro do momento é a sociedade industrial.

GOLDBLATT (1996), recoloca a questão, distinguindo o industrialismo do capitalismo, mas demonstrando a interface constituída na modernidade entre estes dois pólos e a impossibilidade de se dissociarem essas dimensões, para efeito de entendimento da questão ambiental e de seus desdobramentos sobre a sociedade.

LOUREIRO (2002), explica que o industrialismo é compreendido como fator de produção e de tecnologia, que tem reflexos na mobilização de recurso na produção e circulação de bens e a sua mecanização, além de interferir na especialização das atividades no trabalho e nos avanços permanentes no campo da ciência e da tecnologia. Entendido dessa forma, fica evidente o quanto o processo de mecanização e de concentração em centros urbanos acarreta danos, decorrentes diretamente da dinâmica industrial. Mas, em termos de análise rigorosa, colocar o industrialismo como determinante, é dizer que tudo o que resulta deste processo é prejudicial ao ambiente e que a relação sociedade/natureza apresentou sinais de degradação e de dominação humana sobre a natureza só no período de industrialização.

Se o processo industrial e a base tecnológica são os responsáveis pela devastação, a alternativa seria a defesa de uma sociedade inexistente e romanticamente idealizada por grupos de contracultura, na década de 60, quando se vislumbrava uma vida alternativa em pequenas comunidades.

GIDDENS (1991), promove uma separação epistemológica entre capitalismo e industrialismo, declarando que "devemos ver o capitalismo e industrialismo como 'feixes organizacionais' ou dimensões diferentes envolvidos nas instituições da modernidade" .

GIDDENS (1991),defende o industrialismo como componente central da degradação ambiental na modernidade, posto que, tanto no capitalismo como no dito socialismo real, esta foi a Tônica do desenvolvimento. Adotamos outra perspectiva de análise, baseando-nos no argumento que a dinâmica de produção e de inovação tecnológica transformadora da natureza não ocorre como fatos históricos abstratos, mas como o resultado da composição do industrialismo com a estrutura capitalista de sociedade.

Os padrões econômicos de consumo excessivo e de degradação do ambiente têm raízes em suposições culturais especificas das nossas relações com o mundo. A noção de que a natureza é um recurso explorável e consumível está tão profundamente enraizada na cultura industrial moderna que, talvez, seja difícil imaginar uma relação alternativa entre os seres humanos e o equilíbrio da comunidade da Terra ( KLUCKHOHN,F.R.1953).

[...] A indústria moderna, modelada pela aliança da ciência com a tecnologia,transforma o mundo da natureza de maneiras inimagináveis às gerações anteriores. Nos setores industrializados do globo – e, crescentemente, por toda parte – os seres humanos vivem num ambiente criado, um ambiente de ação que, é claro, é físico, mas não mais apenas natural. Não somente o ambiente construído das áreas urbanas mas a maioria das outras paisagens também se torna sujeita à coordenação e controle humanos GIDDENS (1991).

PHIERRE (2006), afirma que é necessário frisar que a sociedade é o lugar do conflito, e não da harmonia. É nela que estão os verdadeiros desequilíbrios, e não na natureza, como nos acostumamos a perceber. E nas sociedades estratificadas em condições injustas invariavelmente existem estruturas de poder em constante e acirrada disputa pela prevalência de seus interesses.

MEIO AMBIENTE COMO PRIORIDADE SOCIAL E ECONÔMICA

A questão ambiental impõe as sociedades uma busca nova e pensar e agir, individual e coletivamente de novos caminhos e modelos de produção de bens para suprir necessidades humanas e relações sociais que não perpetuem tantas desigualdades e exclusão social, e ao mesmo tempo, que garantam a sustentabilidade ecológica (Parâmetros Curriculares Nacional, MEC/98).

A questão da qualidade de vida, qualidade ambiental, tão presente nas preocupações ambientais e, portanto presente em uma Educação Ambiental, pode ser facilmente cooptada pelo discurso dominante, reivindicando essa qualidade para segmentos sociais, nações e blocos econômicos, integrantes desta nova ordem mundial, escamoteando, contudo, o sentido de exclusão presente nesta reestruturação do mercado mundial (GUIMARÃES, 1995).

No contexto político, contemporâneo, as coletividades difusas são os novos atores, os determinantes são a igualdade, a liberdade, a solidariedade e a "qualidade de vida". A questão ambiental é um canal de abertura para a participação sociopolítica que abre possibilidades de influenciadas classes de diferentes estratos diversos da sociedade, no processo deformação de decisões políticas (LONDERO,1999).

As forças sociais e econômicas dominantes, que se opõe ás mudanças na educação, são muito poderosas, desde o momento em que somos formados na escola, preparada para reproduzir e aceitar passivamente a ordem social estabelecida FREIRE (1970) e GIROUX (1986).

É preciso levar em conta algumas das características da sociedade moderna, dentre as quais se destaca o consumismo desenfreado, como símbolo de status, isolamento, passividade política; falta de comunicação, valorização da segurança, aceleração dos acontecimentos que não permite a reflexão, superestimação e saturação da informação recebida, como fato instantâneo e não como um processo, o que impossibilita a sua análise crítica, substituição das referências de valor, definindo como fundamental o "ter" e não o "ser" (MEDINA,1994).

Estamos frente a uma crise generalizada e global não somente econômica, ecológica ou social; é uma crise do próprio sentido da vida e de nossa sobrevivência como espécie, é uma crise de nossa forma de pensar e agir no mundo. Sobreviveremos a ela na medida em que formos capazes de construir uma nova racionalidade ambiental, que possa responder aos desafios presentes (FÓRUM GLOBAL 92,s.d.,p.194-6).

A crise ambiental contemporânea tem suas raízes na dimensão cultural, suas causas na dimensão econômica (relações sociais, produtivas e mercantis) e suas conseqüências na dimensão ecológica e social. Isso quer dizer que, por definição, a questão ambiental é de natureza complexa, não tangível por uma ou outra disciplina isoladamente ( POMIER,1996).

"As teorias de desenvolvimento econômico do século XX, assim como as políticas decorrentes, sempre ignoraram a condicionalidade ambiental, considerada apenas uma externalidade" (VIEIRA, 2002).

Diante disso LEFF (2000), afirma que a crise ambiental é acima de tudo um problema de conhecimento.

GOLDBLATT (1996), destaca que "as políticas propostas para impedir a atual crise ecológica devem depender do modo como diagnosticamos as suas origens".

SANTOS, (1999) parti da hipótese de que a Teoria Social contemporânea acumulou conhecimentos que permitem: a) uma fonte de consulta para entendermos as atuais relações sociais permeadas pela problemática ambiental, tendo como parâmetros a Ciência, a economia e a política; b) indicar caminhos para políticas públicas de proteção dos recursos naturais,tendo em perspectiva a conservação ambiental, social e cultural.

HENRIQUE LEFF (2001) defende que a temática ambiental seja por excelência eleita para promover a ruptura com o atual paradigma. O autor destaca que:

"o processo civilizatório da modernidade fundou-se em princípios de racionalidade econômica e instrumental que moldaram as diversas esferas do corpo social".

Essa organização social, pautada na racionalidade econômica, deve ser repensada e suplantada, a nova racionalidade, fundada a partir da temática ambiental, seria a racionalidade ambiental onde homem e natureza seriam pensados integradamente.

CORTINA (1998), por sua vez, apresenta abordagem sintética sobre o relacionamento entre economia e meio ambiente. Argumenta ser difícil, para não dizer impossível, proteger o meio ambiente sem o uso de instrumentos econômicos. Afirma, ainda, que o meio ambiente sempre fora abordado de maneira subordinada e suplementar nos estudos econômicos, o que foi modificado por nova configuração paradigmática, em que a economia passaria a ser integrada e não conflitiva em relação às questões ecológicas. Avalia, ainda, que os choques do petróleo, nos anos 70 do século passado, e os acidentes nucleares, radioativos e de vazamento de combustíveis fósseis, que expuseram a evidência de perigos à sobrevivência dos ecossistemas, além da possibilidade de esgotamento de recursos naturais escassos, produziram transformações importantes nos conceitos estritamente econômicos, principalmente os afetos à questão do crescimento. Enfatiza, também que, em nossos dias, desde as teorias ortodoxas de economia (liberais, neoliberais e neoclássicas), passando pelas teorias keynesianas e neokeynesianas e chegando às heterodoxas, como a marxista, coexistem e são interpenetradas pelos novos conceitos oriundos da "economia ambiental", que procura embutir nos processos econômicos os ciclos biofísicos do planeta.

LEFF (2000) assinala que "(...) a crise ambiental leva-nos a interrogar o conhecimento do mundo, (...) corporifica um questionamento da natureza e do ser no mundo, com base na flecha do tempo e na entropia vistas como leis da matéria e da vida, com base na morte vista como lei limite na cultura que constitui a ordem simbólica do poder e do saber. (...) A complexidade ambiental inaugura uma nova reflexão sobre a natureza do ser, do saber e do conhecer, sobre a hibridização de conhecimentos na interdisciplinaridade e na transdisciplinaridade; sobre o diálogo de saberes e a inserção da subjetividade, dos valores e dos interesses nas tomadas de decisão e nas estratégias de apropriação da natureza."

Hoje, o trinômio econômico-social-ambiental constitui a base do desenvolvimento sustentável e as decisões empresariais devem ser avaliadas à luz dos impactos ambientais, fazendo parte da estratégia corporativa da gestão ambiental em um conjunto de atividades e ações integradas dentro de um complexo paradigma ecológico (FIO CRUZ, 1998; FERREIRA, 2000).

No entanto, para além das decisões técnicas e planejadas somente pela perspectiva administrativa e econômica, temos praticamente uma visão unânime de que as variáveis ambientais devem ser consideradas sobre qualquer perspectiva de projetos de desenvolvimento. Nessa perspectiva, surgiu a idéia, hoje corrente e seriamente estudada, do desenvolvimento "sustentável" ( GOMES, 1998)

LEFF (2001), afirma que " a questão ambiental não é ideologicamente neutra nem distante dos problemas sociais e interesses econômicos ".

"O grande desafio do nosso tempo: criar comunidades sustentáveis – isto é, ambientes sociais e culturais onde podemos satisfazer as nossas necessidades e aspirações sem diminuir as chances das gerações futuras" (CAPRA, 1996).

Para Sachs (1986), o meio ambiente deveria ser a base ecológica do processo de desenvolvimento. O meio ambiente é fator estratégico do desenvolvimento. Esta concepção prega: o meio ambiente é capital não fixo, tem limites, é esgotável, não é só recurso, mas também: serviços, espaço, genética, cultura etc., heterogêneo, dialético. Sachs diz ainda ser preciso mudar o paradigma do desenvolvimento,pois corremos o risco de esgotamento dos recursos, dos serviços, de alteração ecológica generalizada,de colapso social.

PRINCÍPIOS DA VIDA SUSTENTÁVEL

1. Respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos: é quase que um princípio ético, pois não precisamos e não devemos destruir as outras espécies.

2. Melhorar a qualidade de vida humana: é este o principal objetivo do desenvolvimento sustentável, permitir que as pessoas realizem o seu potencial e vivam com dignidade.

3. Conservar a vitalidade e a diversidade do planeta Terra: pois é nele que vivemos.

4. Assegurar o uso sustentável dos recursos renováveis e minimizar o esgotamento de recursos não renováveis.

5. Permanecer nos limites da capacidade de suporte do planeta Terra: isso deve ser analisado em separado nas diferentes regiões do plante, como, por exemplo, não podemos querer encher as florestas de pessoas morando.

6. Modificar atitudes e práticas pessoais: a sociedade deve promover valores que apóiem a ética, desencorajando aqueles que são incompatíveis com um modo de vida sustentável. Deve-se incentivar disciplinas de direito ambiental desde a pré-escola.

7. Permitir que as comunidades cuidem de seu próprio meio ambiente: as comunidades e grupos locais tendem a expressarem as suas preocupações e acharem soluções mais rápidas se estiverem vivenciando o problema.

8. Gerar uma estrutura nacional para a integração de desenvolvimento e conservação: toda sociedade precisa de leis e de estrutura para proteger o seu patrimônio; tentar prever os problemas e evitar danos maiores.

9. Constituir uma aliança global: é de extrema importância, pois a falta de cuidado de um interfere na vida de outrem. Entretanto, não devemos nos contentar com palavras e sem buscar ações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O atual momento histórico aponta, sem dúvida, para a importância da reflexão a respeito das sociedades industriais contemporâneas e seus impactos sobre o meio ambiente nos diversos círculos sociais.

O homem nos dias atuais, considera-se na obrigação de consumir algo. A verdadeira necessidade não é mais fator primordial no ato de consumo, as mercadorias duráveis foram transformadas em perecíveis, sua vida útil diminuída propositalmente, os produtos passaram a ser substituídos periodicamente, pelo estímulo à novidade.

Em decorrência, verifica-se que a problemática do meio ambiente emerge como um fenômeno econômico voltado para o poder e o consumo, Em virtude, no atual contexto social urge a necessidade de rupturas de conceitos, na busca de um padrão de vida melhor a todos, a qual prevaleça uma relação harmônica entre homem/natureza.

Pois, da mesma forma que o ser humano faz parte da natureza, ele também é parte integrante da sociedade, fora dela não se pode compreendê-lo. Portanto, cabe a ele, uma mudança ou uma transformação de um antigo modelo de sociedade para um novo, que substitua antigos valores e comportamentos dos consumidores por uma nova base de consumo consciente, enfocando, a sustentabilidade do meio ambiente, equilíbrio da prosperidade econômica e a justiça social. Visto que, o desenvolvimento sustentável pressupõe o equilíbrio entre o homem/natureza/economia, relação de consumo, possibilita um novo pensar da humanidade, emergindo uma visão de que o homem como parte integrante do meio ambiente possa mudar paradigmas e buscar um mundo mais justo e fraterno, utilizando adequadamente os recursos naturais disponíveis, sem comprometer as gerações futuras.

Além disso, o cidadão, deve abandonar a velha idéia de que complexos problemas devem ser solucionados por órgãos dos Estados ou agências multilaterais, permanecendo inerte e esquivando-se de sua responsabilidade perante a sociedade, abdicando de seus direitos, se omitindo dos deveres, sem perceber que o poder de transformação lhe pertence. Assim, o meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum e indispensável à sobrevivência humana, deve ser preservado, não só pelo poder público, mas por toda sociedade.

Enfim, faz-se mister o entendimento humano de que os recursos ambientais não são inesgotáveis, tornando-se inadmissível o desenvolvimento das atividades econômicas de forma alheia a tal fato. É necessária a coexistência harmônica entre economia e meio ambiente, através de um desenvolvimento praticado de forma sustentável, voltado para a preservação dos recursos existentes atualmente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Parâmetros Curriculares Nacionais.Brasilia: MEC, 1996.

CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação: A ciência, a sociedade e a cultura emergente. São Paulo: Cultrix,1982.

Cortina, A. (1998) Ética, Tecnologia y Salud . Buenos Aires: Ed. Salvier

Ferreira, M.J.L. (2000) Nova ordem econômica-ambiental . Gazeta Mercantil supl. esp., São Paulo.

FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz (1998). Saúde e Ambiente no Processo de Desenvolvimento. Projeto Fiocruz Saudável , Fundação Oswaldo Cruz

GIDDENS, A.; LASH, S. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: Unesp, 1997, p. 11-71.

GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991

GOLDBLATT, David. Teoria social e ambiente. Lisboa: Instituto Piaget, 1996. (Coleção Perspectivas Ecológicas, 20).

Gomes, W. (1998) Desperdício e improdutividade afligem empresas . Gazeta Mercantil , São Paulo.

GUIMARÃES, Mauro. A dimensão ambiental na educação. Campinas (SP): Papirus,l995.

Leff, E. (2000) Epistemologia Ambiental . Ed. Cortez, São Paulo.

Leff, E. (2001) Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis: Vozes.

_____________. Técnica, espaço, tempo – globalização e meio técnico-científico informacional.São Paulo: Hucitec, 1997.

LOUREIRO,Carlos.Teoria social e questão ambiental:pressupostos para uma práxis critica em educação ambiental.São Paulo:Cortez,2002

MARX, Karl. O capital – Volume I (livro primeiro): O processo de produção do capital. São Paulo: Nova

MELO, Francisco Carlos Carvalho de; OLIVEIRA, Maurício de. Desenvolvimento sustentável: origens e noções conceituais. Mossoró-RN: Fundação Vingt-Un Rosado, 2000.

MORAES FILHO, Evaristo (org.).Georg Simmel: sociologia. São Paulo: Ática, 1983, p. 122-134

Revista Eletrônica Ciências & Cognição 2006 Instituto de Ciências Cognitivas (ICC

Revista do Centro de Estudos Ambientais e de defesa do Consumidor do Ministério da Justiça, CEJ, Portugal,1996, p. 9.

SACHS, Ignacy. Desenvolvimento e direitos humanos. Maceió: PRODEMA, 2000.

_____________. Espaços, tempos e estratégias do desenvolvimento. São Paulo: Vértice, 1986.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço – técnica e tempo – razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.

Schramm, F. R. (1999) A Moralidade das Biotecnologias. I Congresso Brasileiro de Biossegurança. Rio de Janeiro: ANBio.

SILVA, Edson Vicente; RODRÍGUEZ, José M. Mateo. Desenvolvimento local sustentável. (Mimeo.).Fortaleza, 2001.

Social. Revista do Programa de Políticas Sociais. Campos dos Goytacazes, UENF, v.1 n.1, jan-abr/2007

Soares, B. E. C. (1997) Perspectivas da Biotecnologia Aplicada à Saúde no Brasil. Boletim Antonio Sousa Franco, Ambiente e desenvolvimento, textos – ambiente e consumo, Informativo CTNBio, 1: 6-8.

_____________. A teia da vida. São Paulo: Cultrix, 1996.

VIEIRA, Paulo Freire; WEBER, Jacques. (Orgs.). Gestão de recursos naturais renováveis e desenvolvimento.São Paulo: Cortez, 1997.

______________. Metamorfose do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1997.